Qual criança não quer ter um bichinho de estimação? Eu mesma sempre adorei bichos e toda a natureza, e não foi diferente com meus filhos. Mas era muito trabalho cuidar de três crianças pequenas, e o projeto bicho doméstico foi sendo adiado. Enquanto isso eles criaram pintinhos, peixinhos (como morrem fácil meu Deus!) e até um caramujo chamado Rodolfo.
Então vieram as tartarugas de aquário, Tatá e Tutu. Elas cresceram rapidamente, nos obrigando a trocar o aquário de vidro por recipientes cada vez maiores...
Foi quando chegamos a um novo projeto de vida. Depois de ver enterrados numa obra inacabada o investimento num prédio da Encol, meu marido falou: agora só moro em casa! Uma procura de um ano e meio e encontramos o terreno certo, em meio a um grande gramado arborizado no Park Way. Fechamos o negócio em dois dias.
E já não havia mais desculpa para não termos um cãozinho, íamos ter uma casa afinal! A ocasião perfeita foi o Natal de 99. Fomos para o Rio de Janeiro de carro, chegamos na véspera da festa, deixamos as crianças com os avós em Jacarépaguá, e fomos para casa do meu sogro no subúrbio.
Ansiosos, pegamos o jornal disponível e fomos direto para os anúncios de cães a venda. E nada, ou quase nada, apenas um, falava de filhotes de Schnauzer em Honório Gurgel. Eu queria um Terrier Pelo Duro, mas Schnauzers são da mesma família, e sem outra opção partimos para lá.
__ É aqui mesmo! Vamos entrando, vocês estão em casa! __ quase berrou a senhora de meia-idade que nos recebeu no portão da casa no pé do morro de uma favela suburbana. E aí gritou para o filho: pega lá aqueles que sobraram, que chegou gente interessada em ver.
O rapaz subiu a escada que levava a uma lage sobre a casa, de onde vinham os latidos de muitos cães, e o terrível cheiro de fezes e urina dos animais.
A esta altura do campeonato já não tinha como fugir, embora minhas pernas desejassem correr dali. Fiquei aflita com a barulheira e o fedor que vinha lá de cima, e que obrigava a mulher a gritar cada vez mais alto. De vez em quando ela gritava a toda voz: SILÊNCIO!!! lá para cima, como se os animais fossem obedecer.
O rapaz voltou com dois filhotes nas mãos, já com dois meses e meio de idade. Sujos, encardidos e fedidos. Uma fêmea pequena, e um macho maior.
__ Ah mãe, acho que vou ficar com esta daqui. Olha como é esperta!
E realmente, a mocinha mostrava vivacidade e atenção, enquanto que o macho era devagar e moleirão. Mas havíamos combinado que escolheríamos um macho, e teria que ser aquele.
Eram os últimos filhotes dos dezesseis nascidos naquela temporada. Os genitores eram quatro machos e quatro fêmeas, foram doados por um criador para aquela família, que aumentava seus recursos (se é que tinham algum outro) com a venda dos filhotes. Os nomes eram todos russos, tipo Natasha, Bóris, Vlad, etc., anotados em um monte de registros de pedigree que a mulher veio nos mostrar.
Os cães também vieram, trazidos um a um pelo rapaz. Eram bonitos, mansos, meio gordinhos e assustados, mas estavam com boa aparência e o pelo cortado. Todos sal e pimenta, todos de tamanho um pouco maior que os cães desta raça que eu costumava ver nas quadras de Brasília.
__ Os filhotes ainda não foram registrados, por isso o preço é melhor. Mas o senhor pode registrar!
Era pegar ou largar. Dia de Natal, um cachorrinho encardido e meio bobão, crianças a serem surpreendidas, meu coração aflito e minha vontade de correr fora dali.
__ Só tenho cheque __ falou meu marido.
__ Ah não, não aceito cheque! Sabe que até meu filho já passou cheque sem fundo?
__ Oh mãe, que isso? Isso lá é coisa que se fale? O que eles vão pensar da gente?
__ Então a senhora vai ter que esperar eu pegar dinheiro no caixa eletrônico __ tornou a falar o pai das crianças que não sabiam que estavam prestes a ganhar um cãozinho.
E saímos em busca de um caixa eletrônico de banco. E eu já nem sabia se queria ou não o bichinho. __ Será que é mesmo de raça? O pelo dele é meio avermelhado, ou será só sujeira?
Mas meu marido estava resoluto, voltamos lá com o dinheiro e saímos com o cãozinho tímido e fedido no meu colo.
__ Que nome vamos dar a ele? Lucky, afinal creio que ele é um sortudo de sair daquele lugar! __ e vieram outros nomes à nossa mente.
Na casa do meu sogro dei-lhe um banho caprichado, e o bichinho ficou com o pelo todo arrepiado. Arrumamos um caixa de papelão e uma fita vermelha (foi o melhor que consegui para um presente de Natal improvisado).
Chegamos em Jacarépaguá, com a caixa balançando e gemendo nos meus braços. As meninas entenderam tudo e com lágrimas nos olhos de pura felicidade, tiraram seu presente da caixa e o encheram de beijos e afagos. Acho que nunca as vi tão felizes assim...
Woody. O fiel amigo do Buzz Lightyear. O filme Toy Story era o sucesso de então, e as crianças escolheram este nome. A menina mais velha tinha dez anos, a do meio oito, e o menino três. Naquele momento elas estavam mais prontas para um cachorrinho; o menino só queria lutar, não sabia ainda, mas havia encontrado seu parceiro.
Nosso fiel amiguinho se revelou bem tímido a princípio. Não ouvimos um latido seu, até que completasse quatro meses. Mas bem antes disso, assim que chegamos em Brasília, ele se sentiu perfeitamente bem, estava em casa, e a família agora parecia completa!
(foto: Três crianças e Woody no Natal de 1999, em Jacarépaguá)