Há algum tempo eu penso em escrever as memórias de nosso cãozinho, mas fui adiando, tomada por outros compromissos. Mas ainda é tempo, tempo de lembrar de muitas histórias, tempo de lhe fazer esta singela homenagem.
E foi de forma dramática que tudo ocorreu, tudo o que me fez sentar aqui e recontar: dois imensos cães jovens; uma moça desesperada; uma cirurgia de emergência; dias de intensa expectativa, entre a vida e a morte.
Mas esta é uma outra história, talvez seja melhor iniciar por onde tudo começou.

sábado, 10 de maio de 2014

Ah! Le Leque, Leque, Leque, Leque!



Uma vez sonhei que eu tinha um gatinho branco. Peludo, fofinho, manso e muito tímido o meu gatinho! Seu sonho era ser um astronauta...

Uma noite Woody latia na churrasqueira. De repente ouvimos miados. Acendemos as luzes para conferir, e pusemos o cão para dentro de casa. Lá estava, no madeiramento do telhado um lindo gatinho branco. 

Sem nenhum estranhamento ele desceu até nós, ronronando e passando seu rabo macio em nossas pernas. Era claro que era um gato doméstico, fugido de alguma outra casa. Deixamos ele lá fora e entramos, mas ele ficou junto à porta de vidro pedindo para entrar.

Levei água e ração do cachorro para ele, e ele comeu tudo avidamente. Depois continuou na porta miando. Não resistimos e o encondemos no quarto da filha do meio, afinal ela é a mais aficionada dos bichinhos na casa.

Achamos que ele, ou ela, podia dormir no banheiro das meninas, mas acabamos por descobrir que gatos não dormem à noite, e nesta noite não deixou as meninas dormirem...

Mas o dia amanheceu e examinando o gato com toda a ignorância de gatos, concluímos que era "ela". Marie ficou muito à vontade na cozinha, e Woody ficou com o resto da casa. Tratamos também de fazer uma campanha no Facebook à procura de seus donos originais.

Enquanto isso Marie teve tempo de nos conquistar. Improvisamos uma caixinha de areia, comprei ração de gatos, e ela foi logo ganhando peso. De dia eu a deixava passear no quintal, longe do nosso amigo cão, sempre de olho nela. Para completar resolvemos dar-lhe um banho, a especialista é a filha mais velha, ela dá o melhor banho no Woody, mas desta vez levou muitos arranhões das unhas afiadas de Marie!

A filha do meio tratou de fazer a escova nela, que nem faz com o cão, e valeu à pena! Marie estava agora branquinha, com pelo macio e cheiroso! Ah, como são encantadores os gatos! Confesso que me apaixonei por ela, tão elegante e charmosa, tão dócil e meiga! Que classe! Mas a filha mais velha ficou neutra aos seus encantos, e os homens da casa franziram lhe o nariz. O garoto não gostou nada nada quando ela resolveu urinar bem em cima de sua mochila!

Duas senhoras vieram de longe para ver se a gatinha era Felícia, sumida já a uns dez dias. Mas não era, e elas foram embora decepcionadas. Como o tempo estava passando resolvemos apresentá-la ao cachorro da casa.

Woody na "daisy" com as meninas, Marie no meu colo. Se fosse em outros tempos, de Woody caçador, este encontro seria impossível, mas desta vez ele ficou curioso. Marie, por sua vez, já devia ser acostumada com cães, pois não se importou nem um pouco com a proximidade do cão.

Por fim cheiraram-se, e a gata deu por fim ao encontro, espanando com o rabo peludo o focinho do outro. Estavam apresentados, e dali em diante, Marie resolveu tomar conta da casa. Na verdade acabamos descobrindo que não se tratava de gata, mas de gato. A descoberta foi de Lu, a fiel escudeira, que o examinou com cuidado e afirmou: olha aqui as bolinhas dele!

                   

Já que não era mais Marie, acabamos cedendo à música do momento, e o chamando de: Ah, Leleque! Pois bem, Leleque deitava-se elegantemente do degrau de madeira da casa, e Woody só olhando, pois um portãozinho o impedia de chegar lá.

Leleque deitava-se na mesa lateral, entre as estátuas de Rama e Cita e de Parvati, e Woody só olhando... O cão deu então de comer a ração do gato, e de beber a água do mesmo. Chateado, não fazia mais festinha para nós quando chegávamos. Tentava se aproximar do gato, mas tudo que ganhava era uma espanada de rabo!

Woody estava entrando em depressão! E eu disse ao Leleque: você tem que conquistar é o cão! Tem que lamber as orelhas dele, fazer massagem com suas patinhas nas costas dele! Se você o ganhar você ganha a casa!

Mas Leleque nem aí. Pensei que se ficássemos com o gato, Woody não duraria mais quatro meses. Fiz uma campanha por email: alguém quer um lindo gatinho branco de olhos verdes? Foi então que resolvi mostrá-lo a uma amiga que veio aqui em casa: você não quer um gatinho? Não poderemos mais ficar com ele, ou perderemos o cão!

__ Bem que a gente estava querendo arrumar um bichinho de estimação para meu sobrinho... Vou perguntar para ele e para minha irmã, e depois te ligo.

A resposta foi afirmativa, e no sábado, uma semana depois da chegada de Leleque, a moça com o sobrinho foi pegá-lo lá em casa. Como eu não estava, a filha mais velha ficou de entregá-lo. Mas quem disse que ele queria ir? Leleque se agarrou em seus braços, afinal já se sentia dono do pedaço e estava muito à vontade pela casa.

Foi a contragosto. Ficamos pensando se ia dar certo. Mas minha amiga ligou alguns dias depois. O menino de onze anos se apaixonou pelo gatinho, não queria nem ir para a escola, para ficar cuidando dele! Disse também que estava treinando para um dia ser pai um dia! 

Leleque ganhou o nome de Eros e um novo lar. O menino amoroso ganhou seu bichinho de estimação. E nós ganhamos Woody de volta! Ele esqueceu o bichano e voltou a ser o mesmo cão festeiro e companheiro de sempre!

Esta é uma história com final feliz! Ah! Leleque!


(fotos: Leleque entre Rama e Cita, e Parvati; na cama da filha do meio com o cão; Leleque ainda encardido)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário!