Há algum tempo eu penso em escrever as memórias de nosso cãozinho, mas fui adiando, tomada por outros compromissos. Mas ainda é tempo, tempo de lembrar de muitas histórias, tempo de lhe fazer esta singela homenagem.
E foi de forma dramática que tudo ocorreu, tudo o que me fez sentar aqui e recontar: dois imensos cães jovens; uma moça desesperada; uma cirurgia de emergência; dias de intensa expectativa, entre a vida e a morte.
Mas esta é uma outra história, talvez seja melhor iniciar por onde tudo começou.

sábado, 10 de maio de 2014

Uma cirurgia de emergência



Somos amigos de nossos vizinhos, mais ainda destes que são os donos dos dois grandes cães. Por uma questão de afinidade, creio eu. De alguma forma entre nós existe apoio mútuo e troca de gentilezas.

Naquele domingo fatídico, meu marido, a filha mais velha e eu estávamos no supermercado próximo ao apartamento dela em NY. Era de tarde e meu celular tocou. Vi que era o meu vizinho e não atendi por que nos recusamos a pagar a operadora quando em viagem ao exterior. Ele ligou de novo, e ainda mais uma vez. Pensei que talvez houvesse algo sério para ele insistir em me falar.

Nossa filha disse para eu voltar ao apartamento, onde poderia entrar em contato com ele pelo Whatsapp ou  pelo Facetime. Concordei que era a melhor coisa a fazer e fui embora. No apartamento consegui entrar em contato com o vizinho, ele estava no hospital veterinário com Woody e minha filha do meio.

Devo dizer que meu vizinho é um cara tranquilo, e foi com tranquilidade que ele tentou explicar o acontecido. Tanta calma que achei que havia algum exagero naquela situação. E eu também sou calma, e otimista sempre acredito que as coisas não são tão difíceis quanto possam parecer.

__ Olha houve um acidente hoje à tarde no condomínio. Os cães conseguiram sair do terreno e avançaram sobre Woody e sua filha que estavam passeando. Eles estão bem, ela só sofreu alguma escoriações, mas de toda forma achei melhor trazê-los até o hospital veterinário. Eles examinaram Woody, e ele não tem nenhuma fratura. Mas acharam melhor fazer um ultrassom, observaram que há uma hemorragia interna e um tumor no fígado.  Ele precisa de uma cirurgia, e precisam da autorização de vocês para isso.

Quando ele falou de hemorragia interna e tumor no fígado me veio à mente o exame que eu havia desmarcado, há apenas dois meses atrás. Se o tivesse feito saberia deste tumor e uma possível hemorragia, de modo que pensei que não havia nada novo ou urgente, um problema que eu poderia resolver quando retornasse a Brasília em dois dias. Eu sabia que o vizinho era uma pessoa cuidadosa, e tudo me pareceu um excesso de zelo.

Foi isso que eu falei para ele, que resolveria assim que chegasse. Meu vizinho pediu para que eu falasse com o veterinário, mas a conexão estava ruim e caiu mais uma vez. Quando conseguimos contato novamente meu marido havia chegado, e era da mesma opinião que eu. Ao fundo podíamos ouvir o choro convulsivo de minha filha do meio, mas também não havia nada há estranhar, já que ela é muito emotiva e se desesperava com qualquer problema relacionado como o cachorro.

O veterinário tentou explicar novamente a situação, apesar das falhas da internet, e por fim afirmou que se a cirurgia não fosse realizada, nosso cão morreria, e ele já não falava da forma contida e calma do meu vizinho. A menina ao fundo chorava ainda mais forte, enquanto ele afirmava e tornava a afirmar que Woody ia morrer. O que fazer? Opere, opere! Disse por fim meu marido.

Mais tarde naquela noite soubemos que a cirurgia tinha transcorrido bem e que Woody estava na UTI, mas com os sinais vitais preservados e a hemorragia estancada. Ele também havia recebido uma transfusão de sangue, por conta de uma anemia já existente.

Levada ao hospital, minha filha também estava bem, embora com pulso inchado e dolorido, com algumas escoriações (algumas delas causadas pelo desmaio e queda que teve no hospital veterinário), e um furo na mão por conta dos dentes dos animais.

Pedimos aos nossos vizinhos que ficassem com ela, para que ela não dormisse sozinha. Eles ficaram e lhe deram medicação para dormir também a nosso pedido. No dia seguinte deixaram os compromissos e o trabalho de lado para dar atenção a garota e ao cão internado. Ela foi mais uma vez ao hospital, ainda estava muito nervosa e chorava muito, mas foi descartada a necessidade de tomar as vacinas anti-rábicas.

Enquanto isso nosso cãozinho se recuperava da cirurgia, e reagia bem. Mais tarde naquele dia conseguimos falar com nossa filha e ela contou um pouco do que havia ocorrido. A ficha então começou a cair, pois tínhamos imaginado que ele havia rolado no asfalto, caído, qualquer coisa assim. Imaginei que se aqueles dois cães tivessem pego Woody de verdade, o teriam estraçalhado em dois minutos.

O que aconteceu é que eles fizeram como Woody fazia quando pegava um lagarto ou um camundongo, ele nunca os cortava, mas os mastigava na boca, o suficiente para matá-los. Ele também, foi amassado na boca dos cães, o suficiente para fazer sangrar o tumor que já havia, e causar também uma hemorragia no peritônio e sobre a cápsula renal direita.

Naquela noite de segunda-feira pegaríamos o avião de volta, e chegaríamos na terça-feira pela manhã, então eu poderia estar presente e fazer o que fosse preciso. Mas o caso é que eu já não estava mais tranquila.

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