Há algum tempo eu penso em escrever as memórias de nosso cãozinho, mas fui adiando, tomada por outros compromissos. Mas ainda é tempo, tempo de lembrar de muitas histórias, tempo de lhe fazer esta singela homenagem.
E foi de forma dramática que tudo ocorreu, tudo o que me fez sentar aqui e recontar: dois imensos cães jovens; uma moça desesperada; uma cirurgia de emergência; dias de intensa expectativa, entre a vida e a morte.
Mas esta é uma outra história, talvez seja melhor iniciar por onde tudo começou.

sábado, 10 de maio de 2014

O cão sábio


Nos fundos do terreno tínhamos um grande gramado e duas balizas de futebol, que depois da inauguração da casa, raramente foram usadas. Com as secas inclementes a grama ficava como palha e nem Woody costumava passear por lá, o campo ficou por conta das formigas e cupins.

Mas houve um dia em que meu marido perguntou: por que não plantamos um pomar lá atrás? E eu respondi: sim! Por que não? Podemos plantar um pomar em volta do salão de festas!

__Que salão de festas?

Levaram alguns meses até que eu o convencesse, e aos demais da casa, da necessidade de fazermos um salão de festas. Mas ele saiu, e em volta dele um pomar e jardim. Isto foi no meio do ano de 2008. A inauguração foi no aniversário de dezenove anos da filha mais velha, no final de abril.

O chão estava ainda no cimentado, e eu o cobri de folhas de ficus. Puxamos a fiação e penduramos as lâmpadas no madeiramento do telhado, por que telhas ainda não havia. Coloquei velas em saquinhos de pão com areia, e marquei o caminho até o salão.

Foi um sucesso, a primeira de muitas festas que demos por aqui. Woody ficou só felicidade, e ficava de lá para cá, e de cá para lá, acompanhando as visitas e participando das conversas! É claro que se algum salgadinho caísse no chão ele estava lá para recebê-lo também. Logo depois do salão ficar pronto, no aniversário meu e de meu marido e, fizemos uma festa julina, com direito a fogueira ao lado.

Agora tínhamos nosso espaço de comemoração de datas e eventos, e eu o meu espaço para cursos e atendimentos. Assim Woody se tornou um cão holístico! Participou de todos os cursos, ficava no meio do salão durante as meditações de Kwan Yin, juntava-se ao grupo no tatami que eu montava, deitava ao lado da maca durante os atendimentos. Dia de curso ele pulava feliz, enquanto eu arrumava o salão. Ele se tornou nosso mascote.

Aproveitei, e pelo sim, pelo não, também o iniciei no Reiki. Afinal mal não podia fazer. Não vou dizer que foi por causa dos cursos e iniciações, acredito que mais pela maturidade, o caso é que nosso cãozinho foi se tornando cada vez mais sábio. Mais sereno e tranquilo deixou em paz os passarinhos e lagartos do quintal. Deixou de ser ciumento e brigão, e com a perda gradual da audição já não se importava com os trovões ou com fogos de artifício.

Passou a gostar de maçãs e peras, e toda semana eu comprava umas quinze só para ele. Não que desprezasse a pipoca nos dias de jogo de futebol, mas agora sua alimentação estava mais equilibrada e ficou mais fácil mantê-lo no peso.

Só não houve jeito de ensiná-lo a andar de coleira. Ele gostava de passear lá fora, ainda fazia um escarcéu, latindo e chorando, se nos visse de short, tênis e boné. Tentávamos sair de casa escondidos, mas de alguma forma que não sabemos, ele sempre nos descobria, e roubava nosso tênis ou meia, antes que pudéssemos colocá-los.

Do lado de fora do condomínio éramos arrastados impiedosamente em zigue-zague. De nossa parte tentávamos freá-lo e na volta ele já estava tão cansado que se jogava no chão, e tinha que vir no colo... Era cansativo também para nós.

Então encontramos a solução: passamos a passear com ele dentro do condomínio, sem coleira, completamente à vontade. No portão ele disparava em direção às mangueiras, dava uma volta completa e ficava satisfeito. E agora podíamos caminhar lá fora.

Passou a fazer parte de seu hábito diário, se encontrasse alguém disponível em casa, ele o chamava para passear com ele, todos os dias!

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