Há algum tempo eu penso em escrever as memórias de nosso cãozinho, mas fui adiando, tomada por outros compromissos. Mas ainda é tempo, tempo de lembrar de muitas histórias, tempo de lhe fazer esta singela homenagem.
E foi de forma dramática que tudo ocorreu, tudo o que me fez sentar aqui e recontar: dois imensos cães jovens; uma moça desesperada; uma cirurgia de emergência; dias de intensa expectativa, entre a vida e a morte.
Mas esta é uma outra história, talvez seja melhor iniciar por onde tudo começou.

sábado, 10 de maio de 2014

Um cão falante



Uma vez vi uma reportagem sobre o cão cantor de Rita Lee, também um Schnauzer. Não que ele fosse realmente afinado, eram mais uma coleção de uivos empolgados em um ritmo autêntico!

Talvez a comunicação vocal também seja um talento desta raça, o caso é que um dia descobri que Woody falava, do seu modo, mas realmente comunicava seu recado.

Uma vez eu o ouvi mugir como o vaca. De onde ele tirou esta ideia? Não sei, mas creio que talvez tenha sido uma tentativa de se comunicar. Outra vez eu estava na cozinha e ele de pé ao meu lado, não lhe dei muita atenção, e então o ouvi murmurar: __ Hum, hum, hum, hum!

Então lhe dediquei meu tempo: __ O que você quer Woody? Quer um biscoito?

E a resposta foi: __ Hum, hum, hum!

É claro que entendi. Ele compreendeu isso e aprendeu a falar de sua forma peculiar. Cada vez que desejava alguma coisa de nós, ele chegava ao nosso lado e...

__ Hum, hum, hum, hum!

Mais ou menos isto, mas com muito efeito. __ O que você quer Woody? Quer comer, quer passear, quer comer uma coisinha gostosa?

E ele nos guiava na direção de seu desejo.

Quando chegava visita, ele se postava ao seu lado, para papear é óbvio. Caso não recebesse a devida atenção ele dava início à conversa: __ Hum, hum, hum, hum!

E sempre dava certo! Ganhava atenção, talvez um carinho na cabeça e nas orelhas, uma palavra reconfortante! Ele ficava feliz e se deitava ali por perto, ou ia para outro canto da sala.

Numa festa, ele se apresentava a cada um dos convidados, se não lhe notassem ele mandava logo seu Hum, hum, hum, hum!

Ele se tornou tão hábil em seu tipo de conversação que não o esqueceu nunca mais, mesmo quando foi perdendo a audição, ele continuou a falar. Mesmo quando não mais atendia aos nosso chamados, quer lhe chamássemos de Woody, Dundi, Dundun, Dudu, Bonitinho, etc., ele nos chamava e era sempre atendido!

Uma vez o deixei na clínica veterinária para uma limpeza de dentes. Fui buscá-lo à tarde, ele me aguardava ansioso. Chegamos em casa e ele foi para a sala. Logo depois fui atrás dele, e ele desatou então a falar num tom lamurioso e indignado. Sentei-me nos degraus mais baixos da escada, para melhor ouvi-lo durante longos minutos:

__ Hum, anhn, inn, onnn, ahh, hum, ain, inn...

O relato completo de praticamente uma sessão de tortura... É lógico que entendi que o haviam segurado, não haviam sido nada gentis, que ele havia se sentido ultrajado, humilhado, maltratado, enquanto aquela maldita máquina lixava seus dentes sem dó nem piedade!

Lhe afaguei, lhe consolei, lhe disse o quanto era importante ter os dentes livres dos tártaros para prevenir uma infecção. Por fim lamentei junto com ele. Ao menos creio que ele se sentiu aliviado em seu desabafo tão humano, ou como disse uma amiga: "humanimal"!

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