Há algum tempo eu penso em escrever as memórias de nosso cãozinho, mas fui adiando, tomada por outros compromissos. Mas ainda é tempo, tempo de lembrar de muitas histórias, tempo de lhe fazer esta singela homenagem.
E foi de forma dramática que tudo ocorreu, tudo o que me fez sentar aqui e recontar: dois imensos cães jovens; uma moça desesperada; uma cirurgia de emergência; dias de intensa expectativa, entre a vida e a morte.
Mas esta é uma outra história, talvez seja melhor iniciar por onde tudo começou.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

As melhores lembranças


Ninguém teve culpa. Não era possível prever que um jovem cão seria capaz de soltar uma grade de ferro dos muros para avançar sobre nosso amigo. O grande cão seguiu seu instinto. Meus vizinhos apoiaram da melhor forma possível Woody e nossa filha, e a nós também. Tiveram o cuidado de reforçar todas as grades limítrofes do terreno, para evitar outras ocorrências deste tipo. A equipe do Hospital Clemenceau fez o possível para salvá-lo, a cirurgia foi bem sucedida e não é possível dizer o que não deu certo.

Se eu pudesse escolher, pediria que Woody partisse num sono tranquilo. Mas o destino quis de uma forma diferente, difícil de compreender, por que nosso querido amigo teve que partir de forma tão dramática? Pensei que talvez sendo ele um cãozinho valente, fosse assim que tivesse que ser, em meio a uma luta feroz, mesmo que desproporcional. Não haveria de ser por uma diarreia, nem por conta de um tumor.

Foram quatorze anos e cinco meses de uma feliz e alegre convivência. Ele estava presente em nossas vidas nos melhores momentos, e também nos piores. Vestibulares, formaturas, crises, despedidas, festas, aniversários... Woody cresceu junto com nossos filhos e é parte de nossa família e nossa história. Ele é sim inesquecível.

Mas a vida tem suas razões submersas. Woody partiu no sábado na hora da Ave Maria, no domingo à noite chegou meu pai, aos oitenta e oito anos de idade, com perda de peso, necessitando de cuidados e exames médicos. Minha atenção e meu tempo foram então dedicados ao velho pai.

Minha filha em Nova Iorque, sofreu mais se consolou, ela também desejava que sua vida não se prolongasse num sofrimento sem fim. O menino ficou desolado, ele até então não sabia de nada, e a notícia foi como uma bomba sobre ele. Pediu para vir para casa, no dia seguinte estava conosco, e voltou para seus estudos no outro. Eu avisei a Lu no domingo, para que ela não tivesse um choque ao chegar na segunda-feira e não encontrá-lo. Durante algumas semanas depois ela ainda ouvia o ruído de suas patinhas pela casa...

O Vovô passou um mês conosco, e minha mãe se juntou a nós na última semana. Quando eles retornaram para sua casa a ausência de nosso cãozinho ainda doía em nossos corações. Mas as poucos vai cicatrizando e o que fica são as melhores lembranças.

A filha do meio continua inconformada, seu desafio é desapegar, deixar partir, entender que a vida finda neste plano de existência. Estamos aqui só de passagem, e cumprimos nossa missão com Woody, e ele cumpriu a sua conosco.

Para mim fica a gratidão. Gratidão pela equipe do Hospital  Clemenceau, especialmente ao doutor Daniel que realizou a cirurgia e que esteve presente nos últimos dias de Woody. Agradeço também aos doutores Ana Paula, Bruno e Olavo. 

Gratidão pelos meus vizinhos, e devo dizer que é melhor passar por uma situação difícil quando estamos junto aos amigos, e eles mais uma vez foram verdadeiros amigos. Gratidão pela família maravilhosa que tenho, que se mantém unida nos piores e melhores momentos da vida.

Gratidão principalmente por este amigo "humanimal", que nos deu sua nobre e fiel amizade, por tudo de bom que vivemos juntos, por tudo que ele nos ensinou, como amizade, alegria, cuidados e velhice. Sei que você está bem, nas mãos de Deus, do universo, cumprindo seu destino evolutivo!

As cinzas de Woody por enquanto estão bem guardadas comigo. Quando as três crianças crescidas estiverem juntas novamente, poderão decidir onde querem deixá-las. Acho que nosso quintal é uma boa ideia, afinal aqui ele viveu foi feliz por praticamente toda sua vida. Talvez então tenhamos mais um capítulo das memórias de um cãozinho valente.

E eu fico em paz. Obrigada querido amigo!






Woody 

*16/10/1999   +15/03/2014

(Fotos: Woody com a família reunida no Ano Novo; com a menina mais velha; com o garoto, com a menina do meio; o vovô; Woody comigo; em sua cama na sala; e saindo de carro para o Petshop).

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