Há algum tempo eu penso em escrever as memórias de nosso cãozinho, mas fui adiando, tomada por outros compromissos. Mas ainda é tempo, tempo de lembrar de muitas histórias, tempo de lhe fazer esta singela homenagem.
E foi de forma dramática que tudo ocorreu, tudo o que me fez sentar aqui e recontar: dois imensos cães jovens; uma moça desesperada; uma cirurgia de emergência; dias de intensa expectativa, entre a vida e a morte.
Mas esta é uma outra história, talvez seja melhor iniciar por onde tudo começou.

sábado, 10 de maio de 2014

Pouco antes do Carnaval


Como eu já disse, os filhos crescem. Um dia abrem as asas e solam um voo rumo aos seus sonhos... É assim que tem que ser, é assim que é.

Foi assim com nossa menina mais velha. Um dia deixou de ser menina, virou mulher, formou-se com louvor, e decolou para Nova Iorque, para fazer a residência médica. Desta forma nosso ninho começou a esvaziar. Isto foi no final do primeiro semestre do ano passado.

Fui com ela arrumar seu pequeno apartamento, que nós chamamos de cafofo! Dá para hospedar mais dois, estratégia para a visitarmos sempre que pudermos. Logo depois nos reunimos todos lá para passar meu aniversário e de meu marido. E desde então ela não passa mais que dois meses sozinha, vão os irmãos, vão os amigos, vai o namorado, e ela volta e meia tem companhia.

Depois foi o filho mais novo. Decidiu partir para São José dos Campos, e preparar-se para estudar engenharia naquela cidade. E isto foi no início deste ano. Não conseguimos dizer nada ao nos despedirmos dele, apenas nos abraçamos, os olhos debulhados de lágrimas. Mas é assim que tem que ser, ele vai em direção aos seus sonhos, e nosso ninho fica um pouco mais vazio.

No cafofo dele não cabe mais ninguém, ele já o divide com mais cinco rapazes. Mas sempre que dá uma folga nos estudos, ele vem nos visitar.

Ainda tínhamos a menina do meio, e um cachorrinho idoso. Ela é era a mais apegada a ele, e eu lhe dizia, ou pensava dizer: ele não vai durar para sempre, precisamos nos preparar. Mas será que alguém está preparado para a partida daqueles que amam?

Ela o tratava que nem um neném, falava com ele como as mães falam com seus bebês, e mesmo já surdo, só de vê-la, ele começava a tremer-se todo. Pare com isso, eu dizia, ele está reagindo como um bebê carente. Ela então aprendeu a ser carinhosa sem ser mamãe demais, e ele não mais se tremeu.

Foi no início do ano que desconfiei que Woody estivesse diabético. Às vezes ele urinava na sala de jantar, ou por que estava chovendo à noite e el não passeou, ou por que não abriram a porta para ele de manhã cedo, ou por pura sem-vergonhice (nunca vamos saber exatamente...). O caso é que as formigas cercavam sua urina e desconfiei do açúcar alto.

Talvez isso explicasse a perda de peso e de massa muscular, e o maior volume abdominal.

Tentamos em vão tirar um gota de sangue para teste. Levei-o então ao doutor Rogério com o kit teste de glicose na bolsa. É do lado interno da orelhinha que se tira o sangue, eu aprendi. Mas a glicose deu normal, e o doutor falou que o animal pode ter picos de glicose alta, e ainda assim não ser diabético.

Mas apalpando o cãozinho ele desconfiou de algum problema no fígado e sugeriu que fizéssemos um ultrassom. Eu marquei o exame para a outra semana. E em casa testamos sua glicemia por algumas manhãs, Woody não tinha diabetes.

Pensei a cada dia da semana se deveria levá-lo para fazer o exame. E se encontrássemos algum problema, o que iríamos fazer? Talvez fosse melhor não saber de nada, Woody tinha já quatorze anos, e pensei o quanto seria sofrido e arriscado uma cirurgia nesta idade, ou um tratamento quimioterápico. Por fim desmarquei o ultrassom.

Marcamos de visitar a menina mais velha uma semana antes do Carnaval, e foi mais ou menos um mês antes de nossa viagem que Woody teve uma diarreia. A sala de jantar amanheceu toda suja. Pensei que fosse um episódio isolado, mas no noite seguinte a mesma coisa aconteceu.

O equilíbrio delicado da saúde de nosso cãozinho estava ameaçado. Percebi que ele estava perdendo peso rapidamente. Tratei de lhe fazer tomar, com uma seringa, água de hora em hora, e também suco caseiro de maçã. Estávamos no final de semana, e ele em observação. No domingo ele evacuou na calçada em frente da entrada da casa, e bem no meio um poça de sangue. Parece até que ele fez isso para que víssemos. Será que ele vai nos deixar antes do Carnaval? Pensei apreensiva.

Meu marido pensou em um diagnóstico e eu corri para comprar o remédio. Surtiu efeito, naquela noite ele não evacuou, e nem nas outras. O tratamento levava uma semana e antes disso ele perdeu completamente a vontade de comer. Olhava para a tigela, cheirava, e ia embora. E ele ainda nem havia recuperado o peso perdido nos últimos dias.

Lembramos que a medicação tinha um gosto de lata, tomá-la três vezes ao dia podia estar estragando seu apetite. O jeito foi suspendê-la, e o cãozinho voltou a comer! Rapidamente ele ganhou peso e saiu da zona de risco!

Pude então falar com os filhos que estavam longe e não sabiam do ocorrido: Woody escapou desta! Acho que ele vai viver muito ainda!

(Foto: Woody com seu amigo jacaré).

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