Há algum tempo eu penso em escrever as memórias de nosso cãozinho, mas fui adiando, tomada por outros compromissos. Mas ainda é tempo, tempo de lembrar de muitas histórias, tempo de lhe fazer esta singela homenagem.
E foi de forma dramática que tudo ocorreu, tudo o que me fez sentar aqui e recontar: dois imensos cães jovens; uma moça desesperada; uma cirurgia de emergência; dias de intensa expectativa, entre a vida e a morte.
Mas esta é uma outra história, talvez seja melhor iniciar por onde tudo começou.

sábado, 10 de maio de 2014

Woody caçador


Descobrimos os talentos do nosso amiguinho. Como todo cão ele era fiel e amoroso com seus donos; era também um bravo cão de guarda, e seus latidos algumas vezes mais possantes que seu modesto tamanho; como bom vigilante não deixava em paz nenhum outro animal no terreno; mas descobrimos também que ele era um caçador.

Uma vez matou um gatinho intruso, façanha nada elogiável. Por várias vezes caçou impiedosamente os lagartos do jardim. Víamos um rabo longo, fino e verde balançado pendurado de sua boca, então já era tarde: quando o alcançávamos o lagarto já estava morto. Até aqui nada que pudéssemos enaltecer.

Mas um dia, na época em que os vizinhos dos fundos realizavam obras em seus terrenos, Woody latiu tremendamente junto à porta da cozinha. A tempo o impedimos de atacar - ou ser atacado - por uma cobra cascavel que ameaçava entrar em casa. O zelador a matou.

Em outra época, de seca inclemente em Brasília, fomos visitados por vários  inconvenientes camundongos. A primeira vez que vi um deles foi à noite na sala. Vi algo preto passar velozmente e se esconder atrás do sofá. Fiquei na dúvida se era uma barata. Afastamos o sofá e a coisa tornou a correr e a se esconder. Não era uma barata. Mas também não era fácil de pegar.

Foi necessário um trabalho em família, e embora a menina do meio não ajudasse gritando de cima da daisy, os outros membros da família se exercitaram com vassouras, rodos e empurra empurra de sofás. Woody ainda não o tinha visto, mas sentiu um cheiro diferente e o procurava por toda parte.

Se bem me lembro daquela vez o bichinho escapou. Encontrávamos seus rastros nos fios do som roídos, na ração escondida atrás da geladeira e do fogão. Ele era tão diminuto que passava pela fresta de 1 cm debaixo da porta da cozinha, tentamos vedá-la, nem sempre com sucesso.

No entanto Woody estava agora a sua caça, e seus dias contados. Quando ele latia o seguíamos em volta da casa, ou na área de serviço ou cozinha. Não tardou a encontrá-los, e quase diariamente ele matava mais um. Era gritar: rato Woody, rato! E ele se punha em ação.

As crianças não aprovavam muito, mas eu dava nomes para os bichinhos, Jerry, Tom, Lulinha, e outros que nem me lembro. Assim se foram uns seis ou sete ratinhos. Eu dava nomes e até tinha dó de matá-los, afinal eram bonitinhos, roliços, cinza/escuros, com orelhinhas e olhinhos redondos e focinho curto. Mas o que fazer?

Uma vez meu marido e Woody encontraram um na área externa à cozinha. Meu marido deu-lhe uma pancadas com o rodo, e não suportando mais tamanha violência, colocou seu corpinho em um saco e o jogou no terreno vazio ao lado. Disse que nunca mais matava um animal. Na manhã que se seguiu àquela noite encontramos um rastro de sangue pela cozinha até a geladeira, era a volta dos que não se foram... Depois Woody completou o serviço.

Nosso cão se mostrou implacável com os pequenos camundongos naquela temporada, e depois eles nunca mais retornaram. Desta vez Woody mereceu nossos elogios como bom caçador que era!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário!