Há algum tempo eu penso em escrever as memórias de nosso cãozinho, mas fui adiando, tomada por outros compromissos. Mas ainda é tempo, tempo de lembrar de muitas histórias, tempo de lhe fazer esta singela homenagem.
E foi de forma dramática que tudo ocorreu, tudo o que me fez sentar aqui e recontar: dois imensos cães jovens; uma moça desesperada; uma cirurgia de emergência; dias de intensa expectativa, entre a vida e a morte.
Mas esta é uma outra história, talvez seja melhor iniciar por onde tudo começou.

sábado, 10 de maio de 2014

Drama

Fazia parte da rotina diária de Woody um passeio completo pelo condomínio, mesmo que não representassem muito mais do que uns duzentos e cinquenta metros, sem esta volta parece que seu dia não estava completo.

Ele pegava quem estivesse disponível no momento, fosse pela manhã ou à tarde, ou mesmo pela manhã e tarde, e retornava feliz e cansado a sua cama na sala.

Outrora valentão, Woody já não latia ou ameaçava a cachorrada da vizinhança. Passava ao largo deles, indiferente aos seus latidos ou apelos. Logo em frente Quin, o Retriever brincalhão, chorava por uma chance de brincar. Que chance que nada, com todo seu peso esmagaria nosso cão ancião em dois tempos.

Depois havia os temíveis cães do vizinho ao lado. Não há muito tempo atrás lá moravam dois destemidos cães de guarda da raça Doberman e a Cocker Mel. Na verdade eu sempre me senti mais segura com suas presenças alertas durante à noite, não se referindo a Mel, que morava dentro da casa. Os três partiram com problemas de saúde e de idade recentemente.

Chegaram novos moradores. Um casal de irmãos, a princípio lindos cãezinhos que prometiam crescer muito. E cresceram, como cresceram. Mais pareciam dois leões, de pelo curto, amarelo/avermelhado. Uma mistura interessante de Fila, com Pastor Alemão, e uma pitada de Rotweiler. Pensei que estaria ainda mais segura com eles por perto.

Eles tinham pouco mais que um ano de idade, mas o macho latia alto e forte, colocava o focinho ameaçadoramente entre as grades do muro, nos domingos em que estava solto e via Woody em seu passeio diário. Não podíamos deixá-lo passear na calçada contígua.

Mais adiante outro vizinho tinha três pequenos cães machos. Eles latiam desesperadamente e Oliver postava-se de forma pronta ao ataque. Mas nada disso parecia perturbar o passeio feliz de nosso cãozinho. Ele contornava os obstáculos caninos passando um pouco mais longe, sem olhar para o lado, sem latir, sem demonstrar medo ou arrogância.

Eu e meu marido viajamos para a casa da menina mais velha em Nova Iorque, uma semana antes do Carnaval. Woody ficou com a menina do meio e Lu. No Carnaval a menina também viajou e Woody ficou aos cuidados de Lu. Ele estava muito bem, comia bem, fazia festinha para suas poucas companhias, passeava diariamente pelas mangueiras do condomínio.

A menina voltou. No domingo deu um bom banho de mangueira no quintal no cão, com o qual ele estava acostumado todos os finais de semana. Depois, como sempre, lhe secou com o secador e lhe fez uma escova, com o animal deitado na daisy.

Sua amiga também estava em casa, e à tardinha Woody pediu para passear como de rotina. Ele saiu no galope, a menina atrás, mas desta vez tudo foi diferente e inesperado. O grande cão do vizinho do lado forçou com seu focinho a grade do muro, e esta cedeu. Os dois cães passaram e vieram para cima do pequeno cão, que inocente corria em direção ao perigo.

Foi rápido demais, a amiga assustada voltou para a casa, gritando. A garota não teve com alcançar o cãozinho à tempo. Os dois cães pularam sobre ele numa luta feroz. Para ela o tempo pareceu uma eternidade, um tempo sem fim até que ela os alcançasse, até que ela se metesse na luta e arrancasse de lá seu querido amigo.

Ela o passou por cima da grade para a amiga do outro lado. Esta depositou o cãozinho ensanguentado sobre a grama. O vizinho seguiu os gritos e latidos e passou pela cerca levantada, por onde passaram os cães momentos antes. Prendeu-os em casa antes de ver todo o acontecido. Então voltou, entrou em nossa casa e tentou colocar Woody de pé, embora sujo de sangue ele não apresentava cortes.

Visivelmente estressado e cansado da luta ele tornou a deitar na grama. A menina chorava desesperadamente, mas não parecia estar muito machucada, além de escoriações pelos braços e pernas. Ele então colocou os dois no carro e os levou para o hospital veterinário.

(Foto: Woody em seu passeio pelo condomínio).

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