Há algum tempo eu penso em escrever as memórias de nosso cãozinho, mas fui adiando, tomada por outros compromissos. Mas ainda é tempo, tempo de lembrar de muitas histórias, tempo de lhe fazer esta singela homenagem.
E foi de forma dramática que tudo ocorreu, tudo o que me fez sentar aqui e recontar: dois imensos cães jovens; uma moça desesperada; uma cirurgia de emergência; dias de intensa expectativa, entre a vida e a morte.
Mas esta é uma outra história, talvez seja melhor iniciar por onde tudo começou.

sábado, 10 de maio de 2014

A melhor idade e seus cuidados


As crianças crescem, e aos poucos deixam de ser crianças. Mas um cãozinho é uma eterna criança, mesmo que envelheça e necessite mais de nossos cuidados a atenções. Chegou o dia em que a única criança nessa casa era Woody, embora ele apresentasse cada vez mais as limitações da idade...

Aos dez anos ele estava muito incomodado com as protuberâncias que cresciam em volta de seu ânus, até que começaram a sangrar e exigiram de nós providências imediatas. Encontramos um veterinário de nome sugestivo: Falcão, na verdade um gato, e ele nos disse que Woody precisava retirar as glândulas perianais. Sugeriu também que aproveitássemos a ocasião para castrar nosso cão.

__ Castrar por quê? Ele vai engordar, ficar moleirão e quem sabe deprimir. Não foi castrado até agora e nem vai ser!

E todos nós concordamos com meu marido. Mas a cirurgia para retirada das tais glândulas foi feita com sucesso, e o espantoso é que nosso bichinho rejuvenesceu alguns anos! Voltou a pular, a correr e a ter a mesma disposição de quando era mais novo!

Aos doze anos, próximo a data de seu aniversário, outro problema surgiu. Eventualmente, ao correr muito, ele apresentava dor nos quadris e mancava por alguns dias. Contornávamos a situação com baixas doses de corticoide por poucos dias, mas desta vez foi pior. 

A filha mais velha viu quando ele escorregou no degrau da sala, caindo de mal jeito no chão. Dali em diante precisava de ajuda para se levantar, mancava nas duas patas traseiras, andando com muita dificuldade.

Voltamos no veterinário gato com nome de pássaro. Ele avisou que provavelmente Woody precisaria de uma cirurgia na coluna por conta de alguma hérnia de disco. O ligamento cruzado de uma das patas traseiras também estava rompido. Pediu que fizéssemos um raio X e nos indicou alguns bons veterinários cirurgiões de coluna na cidade.

No consultório de exames encontrei alguns outros cãezinhos em situação semelhante ao nosso. Havia uma salsichinha com hérnia de disco cervical, sua dona era veterinária e sua mascote seria operada por um colega dela em que tinha total confiança, o doutor Rogério.

Entre os nomes indicados, com graduações no exterior em cirurgias veterinárias, acabei optando em levá-lo ao doutor Rogério. No dia Woody deu uma de macho, e nem mancou nem nada. O veterinário o apertou de todo jeito, e o cão, mesmo visivelmente incomodado, nem gemeu.

__ É valente mesmo este cachorrinho!

Disse o doutor. Por conta da idade, ele resolveu tentar um tratamento menos invasivo. Receitou pílulas de condroitina e glucosamina, fisioterapia e acupuntura. E eu nem sabia que os tratamentos para animais estavam tão especializados assim! Mas fiquei feliz com a ideia de que nosso animalzinho iria escapar de uma cirurgia de coluna desta vez. Não custava tentar. Talvez depois fosse preciso fazer uma cirurgia por conta do ligamento rompido na pata traseira.

Já na primeira pílula sentimos sua melhora. As doutoras Lívia e Rebeca viriam em casa para as sessões de fisioterapia e acupuntura. Foi mais uma maravilhosa surpresa, Woody melhorava rapidamente após cada sessão.

As sessões aconteciam no salão. No começo ele ficava meio ressabiado, com todos aqueles aparelhos que davam pequenos impulsos eletromagnéticos, e também com aquelas agulhinhas e o bastão de fumaça, mas lá pelas tantas ele relaxava e até dormia. Depois de cada sessão ele só tinha tempo de andar até sua cama e desmaiar por várias horas seguidas. Impressionante o efeito que faz!

Livia tem o talento de atrair animais. Na primeira sessão em que foi lá em casa, uma família inteira de micos ficou pulando na cerca viva. De outra vez ela encontrou um enorme jabuti atravessando a pista, parou o carro e o pegou. Levou para casa do namorado que era ali perto. De vez em quando também achava animais perdidos, que eram levados para sua casa, que já contava com alguns cães e gatos. Coisas de veterinários...

As sessões foram sendo mais espaçadas a cada mês, e depois do quinto mês, não mais foram necessárias. A não ser quando Woody descia correndo a escada e escorregava nos últimos degraus. O jeito então era chamar a moças para mais alguma sessão, e ele ficava novinho em folha.

Depois de algumas quedas desastradas resolvi comprar uma grade para colocar na escada. Ficava feia, atrapalhava nossa passagem, mas era pelo bem de nosso amiguinho!

Afinal a casa já vinha sofrendo modificações nos últimos tempos. Ganhou 15 metros de tapetes de borracha, pela sala, hall e cozinha. E a chaise-longue, de alcunha "daisy", foi doada ao nobre animal, uma vez que ele tinha dificuldades para subir nos outros sofás da casa. Era agora a cama oficial de Woody, além de sua outra cama na sala, e seus amiguinhos de pelúcia!
Posso dizer que fizemos adaptações para um cão idoso. Nosso bom e velho amigo foi ficando cada vez mais mimado e cheio de cuidados! E não houve como não fazer comparações com o vovô, meu pai, de quase noventa anos: Ele já está mais surdo que o vovô! Está manhoso para comer que nem o vovô! Está carente que nem o...! Ele está perdendo massa muscular, igualzinho ao...! E assim por diante.

De alguma forma a velhice de nosso cão nos ensina a ter paciência e compreensão com os processos da vida. E eu já avisei a eles, os filhos: quando eu ficar velha, quero ser tratada que nem vocês tratam o Woody!

Bom, com certeza o mundo seria um lugar maravilhoso de se viver, se todos pudessem ser tratados com os cuidados e os carinhos que dispensamos aos nossos queridos animais de estimação! 

Aproveito também para agradecer ao doutor Rogério, e as doutoras Lívia e Rebeca, que dispensaram os cuidados necessários ao nosso nobre amigo, obrigada!

(fotos: Woody na fisioterapia com Lívia; Woody sobre seus tapetes de borracha durante a limpeza da sala; na escada que se tornou perigosa para ele.)

Um comentário:

  1. Eu que agradeço pelo incrível contato com Woody e com toda a família que sempre me recebeu tão bem!!!
    Saudades desse nobre valente!!!
    Beijos a todos!!!

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